segunda-feira, 28 de outubro de 2019

O enfermeiro - conto de Machado de Assis

Olá, 

após o estudo deste conto do consagrado escritor Machado de Assis, faremos um JÚRI SIMULADO. Aguardem as regras. 

O Enfermeiro é um conto do escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908) foi um importante autor realista tendo esse um aguçado olhar crítico das oposições da sociedade brasileira, e que faz parte do livro Várias Histórias, publicado no ano de 1896.


O conto O Enfermeiro está, certamente, entre os melhores contos de Machado de Assis. Narrado em primeira pessoa com foco narrativo no próprio personagem principal e protagonista Procópio, conta a história de um coronel ranzinza e maldoso que não consegue manter um assistente em seu leito de morte, devido a sua forma de tratá-los. Procópio trabalhava como copista na paróquia de sua região e acaba sendo designado para o cargo de enfermeiro pelo padre amigo de sua família e resolve aceitar o desafio apesar de saber que o coronel Felisberto tratava mal a todos que lá iam e com isso ninguém ficava no emprego, mesmo sendo tão bem pago. A convivência dos dois vai trazer grandes problemas para ambos. E ainda guarda alguns mistérios. Destaque para o clímax da história.

Por enquanto leiam o conto.



Machado de Assis

O ENFERMEIRO


Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado.
Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu- me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol. nem a fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a ninguém mais.
Já sabe que foi em l860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo. - quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava. delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao Coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou- me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.
Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dois deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.
Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumino-lhe as feições. que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dois eram até gatunos!
- Você é gatuno?
- Não, senhor.

Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? Achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor ideia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua-de-mel de sete dias.
No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião.
Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.
- Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo. Procópio?
- Qual o quê!
- E por que é que não há de crer, seu burro? Redarguiu vivamente, arregalando os olhos.
Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d'asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário. Ia ficando.
Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui.
Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram- me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto.
Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na parede, onde se fez em pedaços.
- Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.
Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d'Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava uma vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!
Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa, na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. - "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!" exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.
Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranquila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a urna recapitulação da vida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro, espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação.
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira idéia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade:
- Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.
Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos...
- Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.
E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando, convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: "Deus lhe fale n'alma!" E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados...


Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.
- Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.
- Não sei, mas era rico.
- Realmente, provou que era teu amigo.
- Era... Era...
Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas.
Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...
Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. E balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra coisa. Fixei-me também nessa ideia...
Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei- me e fui. Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato.
- Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte.
Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero...
- Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.
E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu, sinceramente buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços, recompunha-se logo e ia ficando.
As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo; distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi morrer, creio eu, no Paraguai.
Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...
Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados."

Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestigio - Ediouro - s/d.




domingo, 20 de outubro de 2019

USO DE ACERCA DE, A CERCA DE OU HÁ CERCA DE?

BOM DIA,

Da série TIRE SUAS DÚVIDAS NA ESCRITA DE PALAVRAS E EXPRESSÕES NO PORTUGUÊS,

veja esta:

ACERCA DE, A CERCA DE OU HÁ CERCA DE?
Você conhece a diferença entre as expressões “acerca de”, “ a cerca de” e “há cerca de”? Entenda como utilizá-las e evite erros na escrita.

Observe as frases:
(1) Conversamos acerca de uma reconciliação.
(2) A propriedade ficava a cerca de 20 quilômetros da capital.
(3) Comprei um carro há cerca de três meses.
É possível notar que as expressões em destaque, apesar de terem a mesma pronúncia, possuem grafia (escrita) e significados diferentes, não é mesmo? E, por isso, seus usos apresentam também certas especificidades que vamos analisar neste texto.
♦ acerca de
Escrita dessa forma, a expressão significa “a respeito de” ou “sobre”.
Exemplo:
O livro tratava acerca da origem do universo.
♦ A cerca de
Nesse caso, o a é utilizado como preposição em a cerca de” para marcar a distância no espaço e no tempo futuro. Essa expressão possui o significado de “aproximadamente”, “perto de”, “próximo de”.
Exemplos:
Minha família mora a cerca de 150 quilômetros daqui.
Estávamos a cerca de uma semana do nosso casamento.
♦ Há cerca de
 (verbo haver) é usado em “há cerca de” para indicar a existência algo ou tempo já decorrido. Essa expressão, portanto, apresenta o significado de “desde aproximadamente”, “faz aproximadamente”, “existe(m)”, “faz”.
Exemplo:
Há cerca de dez candidatos para a vaga de emprego.
Estamos esperando o seu telefone há cerca de duas horas.
Atenção!
Moro a cerca de dez quilômetros daqui.
#
Moro aqui há cerca de dois anos.
A cerca de = distância
Há cerca de = tempo decorrido. Essa expressão pode ser substituída por “faz” – Moro aqui faz dois anos.



Estudar para realizar as atividades em aula.

Prof.ª Elisete, 20/10/2019, às 11h14min

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Se não ou senão

Olá,

para tirar dúvidas no uso desta expressão.



Senão ou se não?

Observe as frases:
1 - Não faz mais nada, senão pensar na viagem.

2 - Se não for possível comparecer à consulta, avise-nos.

Na frase número 1, percebe-se que a expressão “senão” carrega o significado de “a não ser”, “exceto” e, em na frase 2, a expressão “se não” trata-se da ocorrência de uma conjunção condicional (se) que carrega o significado de “caso não”, “quando não”.

Veja outros exemplos:

·         Senão
É usado quando possuir os seguintes significados:
- do contrário, caso contrário:
Estudo muito, senão serei reprovado.

- mas sim; mas:
Não era diamante nem rubi, senão cristal.

a não ser, exceto, mais do que:
Ninguém, senão os convidados, podia entrar no evento.

- mas também:
O aprendizado não depende somente do professor, senão do esforço do aluno.

- falha, defeito, obstáculo (como substantivo):
Não encontrei um senão em seu texto.

·         Se não
É usado como conjunção, ou seja, “se” é uma conjunção condicional que indica uma condição e, nesse caso, quando acompanhada do advérbio de negação “não”, possui os seguintes significados:
- caso não; quando não:
Se não fizer sol, não iremos à praia.

Havia duas pessoas interessadas, se não três.


quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Gabarito uso dos porquês

Oi,

como tinha combinado, posto aqui o gabarito dos exercícios sobre o emprego dos porquês.




Uso dos porquês

1. Assinale a frase em que o uso de “por que” está errado.
a) Você sabe por que ela foi embora?
b) Por que você quer saber isso?
c) Essa decisão foi tomada por que?
d) Alguém sabe por que estamos aqui?

2. Indique  o uso de “porque” correto.
a) Porque você está gritando comigo?
b) Vou embora porque estou muito cansada.
c) Alguém que me diga o porque de tanta confusão!
d) A Helena sabe porque foi chamada à direção?

3. Assinale a opção que completa as lacunas de forma correta.
Eu não fui à reunião __________ estava cansada e não entendo __________ isso está sendo criticado por todos. __________ falam todos sobre isso? _______?
a) porque, por quê, porquê, por quê.
b) por que, porquê, por que, porquê.
c) porque, por que, por que, por quê.

4. Nas frases seguintes, substitua as palavras destacadas por: porque, por que, por quê ou porquê.
a) Ela chegou atrasada pois apanhou um engarrafamento enorme.
Ela chegou atrasada porque apanhou um engarrafamento enorme.

b) A diretora disse aquilo por qual motivo?
A diretora disse aquilo por quê?

c) Por qual razão existe tanta rivalidade entre vocês?
Por que existe tanta rivalidade entre vocês?

d) Qual o motivo de tanto barulho?
Qual o porquê de tanto barulho?

e) Essa foi a razão pela qual saímos do Brasil.
Essa foi a razão por que saímos do Brasil.

5. Complete a frase de forma correta.
Está na hora de sabermos _____________ você foi embora sem dar explicações.
a) por quê                b) por que
c) porque                 d) porquê

6. Assinale as opções que estão erradas.
a) As dificuldades por que passei para te fazer feliz.
b) Nunca entendi o porquê de tanta discórdia.
c) Porque você quer a minha ajuda?
d) Ele vive perguntado por quê você não fala com ele.
e) O evento foi cancelado porque estava chovendo muito.

7 . Complete as frases com: porque, porquê, por que e por quê.
a) _Por que___ motivo você não atendeu seu celular?
b) As obras foram realizadas porque_ houve reclamações dos moradores.
c) Qual o _porquê__ dessa sua atitude?
d) Apenas perguntei por que ela estava chateada.
e) _Porque_ ia embriagado, o condutor foi multado pelo policial.
f) Ontem houve greve de professores. Você sabe _por quê_?
g) As escolas _por que_ passei estavam com sobrelotação de alunos.
h) Apenas fiz isso _porque__ eu quis.


Prof.ª Elisete, 09/10/19, às 16h15min

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Provas Simuladas - Importante

Olá,

Clique neste link e faça provas de Português, 9º ano. Você só tem a ganhar: habilidade de interpretar, aumentar o vocabulário, inferir (deduzir  sentidos nas entrelinhas do texto), tema, ideia principal e muito mais. 

A prova do Saeb a se realizar no final deste mês tem este estilo também. Bom trabalho!




PROFESSOR WARLES QUIZ - SIMULADOS ONLINE DE PORTUGUÊS 9º ANO


Prof.ª Elisete, 02/10/19, às 22h18min