na semana que vem estudaremos este Artigo de Opinião do escritor Juremir Machado da Silva.
Vai lendo.
Roger tirou racismo do armário
Treinador deu a real sobre futebol brasileiro
Quem não conhece Roger Machado? Ele é
treinador de futebol. Dirige o Bahia. Foi ídolo do Grêmio como jogador. Roger é
negro. Na série A, – a principal do Campeonato Brasileiro – só tem dois negros
como técnicos: ele e Marcão, que está começando a carreira à frente do
Fluminense. Treinadores de futebol costumam dar entrevistas robotizadas. Falam
de esquema tático, caprichando na sopa de números, 4-4-2, 4-1-4-1, 4-2-3-1 e
outros assim. Adoram também figuras geométricas imaginárias: quadrados,
losangos e triângulos. Tomam cuidado para não pisar na bola de modo a dar
munição aos críticos.
Como dão entrevistas
coletivas duas vezes por semana, após os jogos, estão sempre muito expostos e
volta e meia se desentendem com a mídia. Depois da partida contra o Fluminense,
ocasião em que os dois técnicos negros vestiram camiseta do Fórum de Observação
Racial, Roger deu aula de sociologia aplicada para quem se dispôs a ouvir:
"A estrutura social é racista, sempre foi racista. Nós temos um sistema de
regras que é estabelecido pelo poder do Estado, das comunicações, da igreja.
Quando esses poderes não enxergam ou não querem aceitar e assumir que o racismo
existe, que é preciso corrigir esse curso, eles dizem que estamos nos vitimando
ou que existe racismo reverso”.
Acertou, como se diz
no futebol, no ângulo, na forquilha, “lá onde o vento encosta o cisco”. Que
bucha! Já teria sido o suficiente para fazer dessa entrevista uma das melhores
e mais lúcidas já dadas por um técnico de futebol, mas Roger Machado tinha mais
bala na agulha. Disparou um petardo de dar inveja aos maiores craques: “O
preconceito que sofri não foi de injúria racial. O que sofro é quando vou a um
restaurante e só tem eu de negro. Fiz uma faculdade onde só eu era negro. As
pessoas podem falar que não há racismo porque estou aqui e eu nego: há racismo
porque só eu estou aqui". Segurem essa.
A história do
“racismo reverso” como tática para negar o racismo contra negros é, no Brasil,
a mais pura e cruel verdade. Tentativa de contra-ataque para, quem sabe, pegar
o oponente desprevenido. Roger mostrou que analisa friamente o contexto
brasileiro. Como é possível que tantos negros sejam jogadores de futebol e tão
poucos comandem os principais times de um país? Servem para fazer o espetáculo
dentro do campo, mas não para “mandar” nos grupos? Quantos presidentes negros
já tiveram os grandes clubes brasileiros? O futebol é um dos meios que mais
revelam a profundidade do nosso racismo. Torcedores racistas ofendendo
jogadores negros povoam os estádios a cada jogo. O negro pode ser craque e
ídolo, mas está sempre prestes a ser ofendido.
Branco que erra é
chamado de ruim. Negro quando falha ouve palavras que jamais deveriam ser
pronunciadas. Roger Machado tirou o racismo do armário esportivo onde alguns
gostariam de escondê-lo, como se fosse possível. Não há democracia racial no
futebol. À beira dos gramados, comandando as equipes do primeiro escalão, só
dois negros podem ser ouvidos. Marcão é experiência. Roger ainda pode ser o
único.
18/10/2019 | 6:11
Boa leitura!
Dia 20 de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra - vamos refletir sobre este importante tema e produzir textos.
Profª. Elisete, 14/11/19, às 10h57min