Caprichar!
Profª Elisete
O triste sono sem mãe
Na
manhã fria de Ipanema, o menino dorme um sono profundo. Estaria sonhando?
Enrolado numa manta, encolhido para proteger-se do frio, falta algo àquele
menino sem nome no dia de festa. O Dia das Mães. Quem será a mãe do menino? Por
que não estão juntos nesse dia, como tantos filhos e tantas mães, de todas as
idades, que brincam na praia e fazem grandes filas em churrascarias, exibindo
presentes? Como ele, centenas de meninos, milhares de meninos, em todo o
Brasil, não tiveram a alegria de ver as mães em seu dia.
Dorme
o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo
de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A
droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia-a-dia e acaba por matar.
O
que esperar desse menino que dorme? O que cobrar dele mais tarde? Provavelmente
a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um
adulto. Que tipo de adulto? Inocente e indefeso, dorme o menino. Está só, todos
passamos indiferentes por ele quando o vemos em sinais, vendendo doces,
limpando vidros, pedindo esmola.
Por
que tem de ser assim? Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar
sua cria à própria sorte? Nem os animais fazem isso, mas as circunstâncias,
muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos. O
que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse
menino não seria conseqüência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria
melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião
de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não
seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?
Dorme
o menino, na frieza dura da pedra, e se pudesse sonhar, sonharia com o calor
macio do regaço materno, com uma canção de ninar, cheia de carinho. Dorme o
menino, dorme com frio...
Autor: Fritz
Utzeri – Jornal do Brasil, 1º caderno, 15/05/2000
EXERCÍCIOS
01) Como podemos perceber pela leitura, o texto trata de
questões humanas como tema geral. Qual tema específico o texto aborda?
02) O texto traz como personagem central um menino. Este menino representa uma centena de outros meninos que vivem na mesma situação do garoto do texto. Que situação é essa?
03) Releia: “Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia a dia e acaba por matar.”.
a) O que o autor quis dizer com a expressão “Dorme o menino
alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de
sapateiro (...)”?
b) O que, segundo o autor, a droga provoca nos
meninos que a consomem?
04) Veja: “(...) Provavelmente a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um adulto.” a) pelo contexto, tente identificar o significado das palavras “repulsa” e “repressão”. (pesquisar num dicionário)
b) Que sorte o menino precisará ter para chegar a ser um
adulto?
05) O autor faz esta pergunta no texto: “Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar sua cria à própria sorte?”. Ele responde que “(...) as circunstâncias, muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos”. Na sua opinião, que circunstâncias são essas?
06) Observe: “O que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse menino não seria consequência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?”. Com que objetivo o autor faz esses questionamentos?
07) Após a leitura e compreensão do texto, responda:
a) O que podemos dizer sobre a intenção comunicativa do
texto? Com que objetivo ele é escrito?
b) Há nesse texto alguma crítica ou denúncia social? Que
crítica seria essa?
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