segunda-feira, 4 de maio de 2020

Questões do conto "A porta aberta"

Boa tarde, alunos do 7º ano!


Releiam novamente o conto em voz alta (antes de responder), pois ele é muito complexo e culto.


A PORTA ABERTA
SAKI
(Hector Hugh Munro -1870 1918)


— Minha tia já vai descer, sr. Nuttel — disse uma jovem dama de 15 anos, muito segura de si. — Enquanto isso, o senhor terá de me aturar.

Framton Nuttel procurava dizer algo apropriado que lisonjeasse devidamente a sobrinha no momento sem indevidamente menosprezar a tia de logo mais. De si para si duvidava, mais do que nunca, que visitas de cortesia, como essa, a uma série de pessoas estranhas, beneficiassem muito o tratamento de nervos a que pretendiam submetê-lo.

— Já sei como vai ser a coisa — dissera-lhe a irmã quando ele preparava sua retirada para aquele recanto de província. — Você vai-se enterrar ali sem falar a vivalma, e vai-se aborrecer tanto que os seus nervos ficarão piores do que nunca. Pelo sim, pelo não dou-lhe umas cartas de recomendação para todas as pessoas do lugar minhas conhecidas. Algumas delas, ao que me lembro, são bem agradáveis.

Framton perguntava a si mesmo, agora, se a sra. Sappleton, a quem vinha apresentar uma daquelas cartas, pertencia ao grupo agradável.

— O senhor conhece muita gente aqui? — perguntou a sobrinha quando julgou que já tinham tido entre si bastante silêncio.

— Quase ninguém — respondeu Framton. — Minha irmã passou aqui algum tempo na reitoria, há uns quatro anos, e deu-me cartas de apresentação para várias pessoas daqui.

Estas últimas palavras foram pronunciadas em tom de manifesto pesar.

— Então o senhor não sabe praticamente nada a respeito de minha tia? — perguntou a jovem dama, segura de si.

— Nada, a não ser o nome e o endereço — reconheceu o visitante.

Nem sabia se a sra. Sappleton era casada ou viúva. Um não sei quê indeterminável parecia sugerir a existência de homens na casa.

— Pois a grande tragédia dela ocorreu há três anos — declarou a menina —, quer dizer, após a visita da irmã do senhor.

— Tragédia? — perguntou Framton.

Naquele cantinho tranquilo de província parecia não haver lugar para tragédias.

— O senhor poderia perguntar por que deixamos esta porta-janela aberta numa tarde de outubro — disse ela, indicando uma larga porta que dava sobre um relvado.

— Está muito quente para a estação — observou Framton —, mas será que essa porta tem algo que ver com o drama?

— Foi por ela que, há três anos menos um dia, o marido de minha tia e seus dois jovens irmãos saíram para a caça. Nunca voltaram. Ao atravessarem o brejo para chegar ao seu lugar favorito, onde costumavam caçar narcejas, os três foram tragados por um pântano traiçoeiro. Naquele ano o verão tinha sido muito úmido, o senhor sabe, e trechos seguros do caminho em outros anos cediam de repente sem dizer água-vai. E — o que há de mais horrível — os corpos nunca foram encontrados.

Aqui a voz da menina perdeu o tom firme e tornou-se hesitante, humana:

— A pobrezinha da titia sempre pensa que eles um dia voltarão, eles e o pequeno sabujo castanho que com eles se perdeu, e vão entrar pela porta, como habitualmente faziam. É por isso que a deixam aberta todas as tardes, até o cair do crepúsculo. Pobre titia! Mais de uma vez me contou como eles foram embora, seu marido com o impermeável branco sobre o braço, e Ronnie, seu irmão mais moço, cantando “Bertie, por que estás pulando?”, com que habitualmente a agastava, porque ele dizia que aquilo a irritava muito. Sabe? Às vezes, em noites tranquilas, silenciosas como esta, eu tenho uma espécie de calafrio: parece-me que os vejo todos entrar por aquela porta.

Interrompeu-se, com um leve tremor. Foi para Framton verdadeiro alívio quando a tia irrompeu no salão multiplicando desculpas por não haver aparecido antes.

— Espero que Vera o tenha divertido — disse.

— A conversa dela tem sido muito interessante — declarou Framton.

— Espero que a porta aberta não o esteja incomodando — disse a sra. Sappleton com vivacidade. — Meu marido e meus irmãos vão chegar da caçada, e eles sempre entram por aqui. Hoje foram caçar narcejas no paul, e vão sujar completamente os meus pobres tapetes. São coisas de homem, não é?

Continuou a tagarelar sobre a casa e a escassez de aves e as perspectivas de haver patos no inverno. Para Framton tudo aquilo era simplesmente horrível. Fez um esforço desesperado, mas só em parte bem-sucedido, a fim de encaminhar a conversa a outro assunto menos horroroso; sentia que a dona da casa só lhe consagrava parte de sua atenção, pois seus olhares iam, sem parar, em direção à porta aberta e ao relvado. Fora, na verdade, uma coincidência infeliz que o trouxera àquela casa precisamente naquele aniversário trágico.

— Os médicos são unânimes em me aconselhar repouso absoluto, abstenção de qualquer excitação mental e de qualquer exercício físico de certa violência — anunciou Framton, que sofria da ilusão, muito espalhada, de que pessoas de todo estranhas a nós, ou conhecidas por acaso, ficam ávidas de conhecer até os mínimos pormenores de nossas doenças e enfermidades, de sua causa e seu tratamento. — Eles só não estão de acordo quanto ao regime — acrescentou.

— Não? — perguntou a sra. Sappleton num tom que ainda em tempo substituiu um bocejo.

Depois, de repente, seu rosto se aclarou num ar de atenção, mas não àquilo que Framton dizia.

— Afinal chegaram! — exclamou. — Justo à hora do chá. Mas não vê que estão cheios de lama até os olhos?

Framton estremeceu de leve e voltou-se para a sobrinha com um olhar destinado a comunicar-lhe uma compreensiva solidariedade. A mocinha estava com os olhos fixos na porta, cheios de horror e estupefação. Num frio choque de medo inominável, Framton virou-se na sua poltrona e olhou para a mesma direção.

No crepúsculo cada vez mais escuro três vultos atravessavam o relvado em direitura à porta; os três sobraçavam espingardas, e um deles tinha também uma capa branca, pendente de um dos ombros. Um sabujo castanho, cansado, seguia-lhe as pegadas. Sem barulho chegaram à casa, até que uma voz moça e rouca se pôs a cantar no lusco-fusco: — “Bertie, por que estás pulando?”

Framton agarrou compulsivamente a bengala e o chapéu; a porta do vestíbulo, o passeio de cascalho e o portão da frente foram as etapas confusamente notadas de sua precipitada fuga. Um ciclista que vinha pela estrada teve de se encostar à cerca para evitar uma colisão.

— Chegamos, querida — disse o da capa branca entrando pela porta. — Estamos cheios de lama, mas quase toda seca. Mas quem foi que fugiu daqui à nossa chegada?

— Um homem esquisitíssimo, um certo sr. Nuttel — disse a sra. Sappleton. — Só sabia falar das próprias doenças, e sumiu sem uma palavra de adeus ou de desculpa quando vocês entraram. Dir-se-ia que viu um fantasma.

— Parece-me que foi o sabujo — disse calmamente a sobrinha. — Ele me contou que tinha horror a tudo quanto é cachorro. Certa vez foi perseguido, num cemitério lá nas margens do Ganges, por uma matilha de cães párias, e teve de passar a noite numa cova recém-aberta, com os bichos a rosnar, a espumar, a arreganhar os dentes para ele. O bastante para a gente ficar com os nervos abalados.

Ela estava-se especializando em improvisar histórias.

Questões de interpretação do conto A PORTA ABERTA.

1) O conto  A porta aberta pode ser dividido em cinco partes.  Copie o início de cada parte.
a)Introdução: a conversa da garota com o Sr. Nuttel.

b) A garota fala da tragédia que se teria abatido sobre a tia.

c) A tia aparece e começa a conversar normal e distraidamente com o Sr. Nuttel.

d) A Sra. Sappleton anuncia a chegada do marido e do seu visitante foge precipitadamente.

e) Desfecho: O marido entra, pergunta pelo homem que saíra correndo e  ouve  a  explicação  serena  da mulher e da sobrinha.

2- O clímax de uma narrativa é o ponto alto da história, o momento para o qual toda a história converge. Qual é o clímax deste conto?

3- Todo conto  é  construído  em  torno  da  expectativa  do  visitante,  que  aguarda  a  todo  momento  o acontecimento de algo sobrenatural.
a)Como se criou essa expectativa?

b) Que provocou o clima de expectativa e a reação apavorada do visitante?

c)  Você pode afirmar, com certeza, que tudo não passara (tinha passado) de uma invenção da sobrinha? Justifique.

4) O  texto  apresenta  recursos  bastante  interessantes  no  que  se  refere  à  introdução  e  à  conclusão  do conto. Observe-os e responda:

a)Como se deu a introdução?

b) Como se deu a conclusão?

  • ATENÇÃO ↧

OBS: Desta questão em diante você tem que copiar a pergunta também, pois houve um equívoco e eu esqueci de pôr na folha xerocada.


5) Quais os diferentes significados que a expressão “A porta aberta” têm para cada personagem.
(1) A porta aberta é o local onde os familiares da sra. Sappleton, já mortos, podem passar a qualquer momento.
(2) A porta aberta permite avistar va família que volta da caça.
(3) A porta aberta inspira a criação de uma história inusitada (fantasiosa e não comum).

(  ) Vera
(  ) Sra. Sappleton
(   ) Sr. Nuttel

6) Qual é o foco narrativo deste conto?
O foco narrativo é em terceira pessoa (3ª). Trechos que justificam a resposta.

7) Como podemos classificar o NARRADOR desta história: onisciente ou observador? Justifique com trechos do conto.

8) Comparando o conto “A porta aberta” com o conto “A orelha de Van Gogh”, qual dos dois teve o desfecho mais surpreendente? Por quê?
Prof.ª Elisete, 04/05/20, às 11h



14 comentários:

Unknown disse...
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Seemg disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Mano não dá pra sabe conto e 4+4=44

Anônimo disse...

Kkkkk

Anônimo disse...

Oi