quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Roger tirou racismo do armário

Olá,

na semana que vem estudaremos este Artigo de Opinião do escritor  Juremir Machado da Silva.

Vai lendo.


Roger tirou racismo do armário
Treinador deu a real sobre futebol brasileiro
       Quem não conhece Roger Machado? Ele é treinador de futebol. Dirige o Bahia. Foi ídolo do Grêmio como jogador. Roger é negro. Na série A, – a principal do Campeonato Brasileiro – só tem dois negros como técnicos: ele e Marcão, que está começando a carreira à frente do Fluminense. Treinadores de futebol costumam dar entrevistas robotizadas. Falam de esquema tático, caprichando na sopa de números, 4-4-2, 4-1-4-1, 4-2-3-1 e outros assim. Adoram também figuras geométricas imaginárias: quadrados, losangos e triângulos. Tomam cuidado para não pisar na bola de modo a dar munição aos críticos.
      Como dão entrevistas coletivas duas vezes por semana, após os jogos, estão sempre muito expostos e volta e meia se desentendem com a mídia. Depois da partida contra o Fluminense, ocasião em que os dois técnicos negros vestiram camiseta do Fórum de Observação Racial, Roger deu aula de sociologia aplicada para quem se dispôs a ouvir: "A estrutura social é racista, sempre foi racista. Nós temos um sistema de regras que é estabelecido pelo poder do Estado, das comunicações, da igreja. Quando esses poderes não enxergam ou não querem aceitar e assumir que o racismo existe, que é preciso corrigir esse curso, eles dizem que estamos nos vitimando ou que existe racismo reverso”.
      Acertou, como se diz no futebol, no ângulo, na forquilha, “lá onde o vento encosta o cisco”. Que bucha! Já teria sido o suficiente para fazer dessa entrevista uma das melhores e mais lúcidas já dadas por um técnico de futebol, mas Roger Machado tinha mais bala na agulha. Disparou um petardo de dar inveja aos maiores craques: “O preconceito que sofri não foi de injúria racial. O que sofro é quando vou a um restaurante e só tem eu de negro. Fiz uma faculdade onde só eu era negro. As pessoas podem falar que não há racismo porque estou aqui e eu nego: há racismo porque só eu estou aqui". Segurem essa.
      A história do “racismo reverso” como tática para negar o racismo contra negros é, no Brasil, a mais pura e cruel verdade. Tentativa de contra-ataque para, quem sabe, pegar o oponente desprevenido. Roger mostrou que analisa friamente o contexto brasileiro. Como é possível que tantos negros sejam jogadores de futebol e tão poucos comandem os principais times de um país? Servem para fazer o espetáculo dentro do campo, mas não para “mandar” nos grupos? Quantos presidentes negros já tiveram os grandes clubes brasileiros? O futebol é um dos meios que mais revelam a profundidade do nosso racismo. Torcedores racistas ofendendo jogadores negros povoam os estádios a cada jogo. O negro pode ser craque e ídolo, mas está sempre prestes a ser ofendido.
      Branco que erra é chamado de ruim. Negro quando falha ouve palavras que jamais deveriam ser pronunciadas. Roger Machado tirou o racismo do armário esportivo onde alguns gostariam de escondê-lo, como se fosse possível. Não há democracia racial no futebol. À beira dos gramados, comandando as equipes do primeiro escalão, só dois negros podem ser ouvidos. Marcão é experiência. Roger ainda pode ser o único.
18/10/2019 | 6:11

Boa leitura! 

Dia 20 de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra - vamos refletir sobre este importante tema e produzir textos.






Profª. Elisete, 14/11/19, às 10h57min

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